Aqui comigo e em algumas conversas
mentais com minha gata, eu nutria uma espécie de esperança de que mais cedo ou
mais tarde os eleitores (ou pelo menos uma boa parcela destes) que nos legaram
este magnífico governo brasileiro, acabariam por arrepender-se. Pensei aqui em
direção da felina, se não seria necessário aqui um alerta de ironia, pois nunca
se sabe o que algumas pessoas entendem, mas ela está muito ocupada lambendo as
patas no sol deste março de pandemia. Meus magros desejos de volta à
racionalidade acabam de ficar um pouco mais desnutridos. Outro dia, ao procurar
entre as prateleiras o livro Cachorros de Palha (Infelizmente fora de edição)
para indicar a um amigo, deparei-me com outro livro de John Gray - O Silêncio
dos animais. Logo nos primeiros capítulos ele destroça minha, já escassa, fé na
natureza humana e meus anseios de uma virada política vão pro brejo.
Gray, professor de Pensamento
Europeu e Política na London School e Oxford, traça um cuidadoso roteiro
através de referências que vão de Borges a Freud sobre como lidamos com o mundo
quando perdemos a fé no progresso e na evolução moral de ser humano. No
capítulo Um Velho Caos - Humanismo e Discos Voadores,
ele conta uma história interessante:
A terra não foi destruída, o disco
não apareceu e como previa a teoria dos pesquisadores, os membros da seita se
recusaram a aceitar que suas crenças estivessem equivocadas e preferiram
acreditar – e comemorar - que suas vigílias e orações conseguiram impedir o fim
do mundo.
Nestes tempos de notícias falsas e
teorias estapafúrdias que vivemos, estamos caindo numa armadilha, provavelmente,
muito bem planejada e articulada que resultou neste imenso caldo de insanidades
que vemos diariamente. Infelizmente temo que quanto mais tentarmos convencer os
seguidores dessas balelas “terraplanistas” e afins de que estavam errados, mais
motivos encontrarão para reforçar suas estapafúrdias teorias.
A espécie humana não suporta muito a realidade (T.S. Eliot)
O Silêncio dos Animais, sobre o progresso e outros
mitos modernos.