Stephen Hawking e o bigodão
Sábado sempre é um dia interessante. Ainda mais se estiver chovendo, frio e escuro. Não tinha ninguém na livraria quando entrou um gajo exatamente como o dia lá fora. Fechado, lúgubre, vestido com uma capa de chuva escura, um chapéu de feltro e exibindo um vasto bigode que tomava sem dúvida a metade do rosto e se contasse as sobrancelhas não sobraria nada para identificá-lo. Não falou nada. Andou entre as prateleiras olhando eventualmente para o alto identificando as estantes. Em poucos minutos dirigiu-se ao meu balcão com o “Universo numa casca de nós” nas mãos. Cumprimentei-o e tentei ser amável: - Grande sujeito esse Stephen Hawking. Belo livro. Acima do bigode enorme e logo abaixo das sobrancelhas dois olhos escuros e vivos cravaram-se nos meus e de dentro do bigode saiu uma voz amável, mas que parecia um trovão: - Veja! Disse-me ele abrindo o livro e mostrando-me as fotos de seu interior, folheando-o enquanto falava: -Galáxias, constelações, buracos negros, planetas, estrelas... Isto não é uma maravilha? - Concordei imediatamente. E ele: - Sabes qual é a única coisa que não combina com isso tudo? Nós. A raça humana. Aqui no nosso planeta está surgindo o começo do fim disso tudo. Lembro que sua mão estendeu-me duas notas. Dei o troco e fiz menção de pegar o livro de sua mão para pô-lo numa sacola mas ele recuou um passo, agradeceu e sumiu pela porta. Agora são dez horas desta manhã de domingo. Continua chovendo. Preciso ver o relatório das vendas de sábado no computador da livraria. Será que não sonhei isso?
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Ventilador