estar disposta a aprender a viver e para isso tenta bisbilhotar os objetos dos hóspedes do hotel em que trabalha, chegando ao ponto de ficar escondida sob a cama em certos dias. A cada página aumenta o envolvimento do leitor com uma personagem só e indefesa num mundo que não a ajuda e nem a compreende.
Um trecho do imperdível A Camareira:
Quando era criança, encontrou certa vez uma concha na praia, levou a concha para a mãe que estava estendida ali em trajes de banho, branca como um queijo sob o guarda-sol, com seu livro.
Uma concha, disse Lynn, encontrei uma concha.
A mãe disse, coloque-a sobre o ouvido.
E Lynn colocou a concha ao ouvido.
O que você ouve?, perguntou a mãe.
Um murmúrio, disse Lynn.
É o murmúrio do mar, disse a mãe, as ondas que estão presas na concha.
O mar?, perguntou Lynn.
O mar, disse a mãe, e continuaou a ler.
Como, pensou Lynn, como é que uma concha pode prender o mar, como pode algo tão pequeno e frágil como uma concha prender algo tão grande e indestrutível como o mar, as ondas do mar, o murmúrio do mar? E então levou a concha para seu quarto e a colocou sobre o criado-mudo, e, como não conseguia dormir, ficou segurando a concha colada ao ouvido, olhando fixamente para a escuridão e ouvindo o rumor das ondas. Pegou o copo de água e o esvaziou, e só porque pegou o copo de água e o esvaziou pôde segurar o copo de água vazio na mão, e só porque colocou de repente sobre o ouvido, e só porque colocou o copo de água sobre o ouvido ouviu o mesmo murmúrio que ouvira da concha, as mesmas ondas, o mesmo vento. E Lynn recolocou o copo no lugar e atirou a concha no cesto de papéis, porque tinha de repente pressentido que tudo na vida é um engano.
A Camareira
Markus Orths
L&pm Editores
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