segunda-feira, 23 de março de 2020

Sem ciência, preferimos crer na mentira alheia do que em nossa própria realidade

          Aqui comigo e em algumas conversas mentais com minha gata, eu nutria uma espécie de esperança de que mais cedo ou mais tarde os eleitores (ou pelo menos uma boa parcela destes) que nos legaram este magnífico governo brasileiro, acabariam por arrepender-se. Pensei aqui em direção da felina, se não seria necessário aqui um alerta de ironia, pois nunca se sabe o que algumas pessoas entendem, mas ela está muito ocupada lambendo as patas no sol deste março de pandemia. Meus magros desejos de volta à racionalidade acabam de ficar um pouco mais desnutridos. Outro dia, ao procurar entre as prateleiras o livro Cachorros de Palha (Infelizmente fora de edição) para indicar a um amigo, deparei-me com outro livro de John Gray - O Silêncio dos animais. Logo nos primeiros capítulos ele destroça minha, já escassa, fé na natureza humana e meus anseios de uma virada política vão pro brejo. 
          Gray, professor de Pensamento Europeu e Política na London School e Oxford, traça um cuidadoso roteiro através de referências que vão de Borges a Freud sobre como lidamos com o mundo quando perdemos a fé no progresso e na evolução moral de ser humano. No capítulo Um Velho Caos - Humanismo e Discos Voadores, ele conta uma história interessante:
          Lá pelo final de 1954, Leon Festinger trabalhava sua teoria da dissonância Cognitiva, e organizou uma equipe de psicólogos para se infiltrarem entre os integrantes de uma seita. Seus seguidores se preparavam para receber a visita de um disco voador que os levaria a outro planeta na noite em que a terra seria destruída.
          A terra não foi destruída, o disco não apareceu e como previa a teoria dos pesquisadores, os membros da seita se recusaram a aceitar que suas crenças estivessem equivocadas e preferiram acreditar – e comemorar - que suas vigílias e orações conseguiram impedir o fim do mundo.

          Nestes tempos de notícias falsas e teorias estapafúrdias que vivemos, estamos caindo numa armadilha, provavelmente, muito bem planejada e articulada que resultou neste imenso caldo de insanidades que vemos diariamente. Infelizmente temo que quanto mais tentarmos convencer os seguidores dessas balelas “terraplanistas” e afins de que estavam errados, mais motivos encontrarão para reforçar suas estapafúrdias teorias. 

A espécie humana não suporta muito a realidade (T.S. Eliot) 
O Silêncio dos Animais, sobre o progresso e outros mitos modernos.





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Ventilador

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