sexta-feira, 23 de março de 2018

Até tu?

Em ano de eleições os políticos preparam suas estratégias para o processo eleitoral. Conversas nas esquinas, festas, velórios e redes sociais (essas redes sociais!), candidatos óbvios negam suas pretensões, enquanto outros, que não serão, anunciam candidaturas. Jogam suas estratégias e procuram negociar melhores cargos para si e seus pares, partidários ou não. 
Como naquelas brincadeiras infantis, ficam rodeando cadeiras com as mãozinhas (grandes?) nas costas, fingindo que não vão sentar, mas sentarão na primeira oportunidade. 
Nem tudo que é dito é o que se quer, mas certamente o que se quer não é dito. As verdades aparecem quando é chegado o momento de cobrar antigos compromissos. A memória humana costuma minimizar obrigações e supervalorizar juras e promessas recebidas. 
Ao realizar novos conchavos, todos são afáveis irmãos de causa, mas na hora de dividir as batatas, as pequenas e podres terão que sobrar para alguém. 
Não é raro aparecerem “beicinhos” depois das eleições quando os cargos são distribuídos e alguns não recebem o quinhão esperado. Eles também aparecem em momentos como agora, em que se preparam as alianças para a próxima eleição e algumas juras de amor eterno foram esquecidas. Para quem se surpreende com a traição e com a ingratidão, lembro que elas acompanham os seres humanos por toda a nossa existência. 
Plutarco, filósofo Grego, contava a história de um soldado que em determinado momento salvara a vida de um rei muito poderoso numa batalha. O jovem ficou radiante, pois imaginava que seria fartamente recompensado. Procurou um sábio para que o ajudasse a decidir o que pedir ao rei, como recompensa por seu ato de bravura, mas este o aconselhou a fugir imediatamente. O soldado, incrédulo, preferiu ficar e não deu outra: Em poucos dias foi morto. 
Ainda hoje, na política, um todo poderoso rei ser salvo por um súdito pode demonstrar uma fraqueza e alavancar novos pretendentes ao reinado. Ao mesmo tempo salvar um rei pode ser prenúncio de uma, metafórica ou não, morte política e unir-se a ele transformará seus aliados em lacaios. 
Lá por 40 A.C., Júlio César governava Roma com mão de ferro e seus senadores eram obrigados a aprovar projetos de lei que nem sequer haviam lido. 
Foi assassinado por 60 de seus senadores entre eles, o próprio filho adotivo, Brutus.
A política ainda é a forma mais sofisticada de convivência que a humanidade, em seus milhões de anos de existência, conseguiu produzir. Um prato de incertezas que os senhores e senhoras políticos, e aquele que pretendem sê-los, precisam aprender a saborear. Trair e ser traído, faz parte de um cardápio que está à mesa e certamente haverá ingratidão de sobremesa.
Apesar de tudo, ainda será preferível combater mil corruptos a um único soldado armado. A democracia, quando saudável, permite controlar a corrupção com mecanismos de transparência e justiça social. Uma ditadura, rapidamente constrói mecanismos corporativos de autodefesa que oferecem de bandeja tudo que a corrupção precisa para crescer e se desenvolver ainda mais.
Aos que hoje clamam por uma hipotética ditadura e àqueles que acreditam e defendem interesses de uma dúzia de poderosos (que sozinhos possuem mais riquesa que a metade a população brasileira), lembrem-se do soldado de Plutarco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ventilador

Sem ciência, preferimos crer na mentira alheia do que em nossa própria realidade

          Aqui comigo e em algumas conversas mentais com minha gata, eu nutria uma espécie de esperança de que mais cedo ou mais tarde os e...