Povo da Rua

A Caravana da Ilusão



Eis que na margem do Guaíba, na tarde ensolarada de domingo, surgiu o Povo da Rua. A população que descansava dos seus afazeres e desfazeres da semana, dos cansaços de contar, vender, comprar, montar, erguer, derrubar e reerguer, pausaram seu descansaço para ver a caravana da ilusão pensar em caminhos a seguir. E pararam. Viram. E certamente levaram consigo a doce semente do pensar. E como existem caminhos para escolher! A caravana é assim.  Lá da beira do rio, chega aos nossos ouvidos o som de um clarinete num doce malabarismo com a melodia de uma gaita. Dentre as árvores outros personagens vão surgindo com seus instrumentos, como num bosque das ilusões perdidas. Lorde e Bufo juntam-se ao Roto e a Bela para completar a trupe de mambembes que buscam responder suas perguntas e tomar sua primeira decisão depois da morte do pai e líder. Surge a cigana esvoaçante, amaldiçoada, em seu cavalo de sonho.  Refletir sobre passado e futuro. O papel da arte e do artista, seguir com a cultura, com a tradição ou arriscar novos caminhos? Existem tantas perguntas que ocupamos nossos dias e nossos filhos com muitas coisas para que não pensemos nelas. Mas nós todos podemos fazer as mesmas perguntas. Do pedreiro que conta tijolos ao bancário que empilha dinheiros do patrão, estamos todos na mesma trupe. Tinha que aparecer a caravana da ilusão. Alegres, coloridos e munidos de poderosas canções, penetraram em nossas mentes, sacudiram-nos delicadamente e sussurraram que existem caminhos, que as escolhas são possíveis e que podemos decidir sim. Nem dói tanto. A arte do Povo da Rua nesta caravana da ilusão, desperta-nos para a vida. Delicadamente.


A peça é uma livre adaptação do Povo da Rua

A Caravana da Ilusão
Alcione Araújo
Ed. Civilização Brasileira
http://www.povodarua.com.br/


Fotografias: Hannah Beineke

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