A Lenda do Rio Invisível


             
                                                    


                                                                         Contam os antigos que lá pelas bandas da Amogólia, havia uma tribo que andava errante.  Vagavam pelas planícies, procuravam nos vales, subiam nos montes, tentaram até enterrar-se na lama, mas nada dava certo. Os alfabemos não alfabemavam. Os trosmos não trosmavam. Nem as briacas briacavam. Diziam que era uma praga rogada por um padre em suas últimas palavras antes de ser comido (quem me contou esta lenda não soube explicar se no sentido literal ou metafórico). Mas lenda é lenda e a tristeza entre o povo se alastrava. Não acreditavam em si, eram tristes e supunham que só os outros povos tinham direito a felicidade. Que só em outros lugares havia beleza. Triste a sina desse povo sem rumo, que teve sua memória extraviada entre buscas e procuras inúteis. 
                                
      Mas, narra a lenda, que um dia viram banzados, surgir nas águas um barquinho branco que os fez olhar na direção que haviam esquecido há tanto tempo que nem lembravam que ali existia um rio. E lembraram as barcas, os botes e os remos de seus ancestrais. Recordaram a alegria de sentir o vento no rosto ao navegar nas águas amigas. Voltou-lhes à memória que quando olhavam da popa em direção à proa sempre tinham um caminho a seguir. E reencontraram a alegria dos banhos de rio, as brincadeiras felizes de criança, e as redes esquecidas que já lhes fartaram tanto as mesas. Ao voltar-se para o rio, encontraram o rumo que haviam perdido há muito tempo. Puderam reconstruir seu espírito verdadeiro, esquecido entre os juncos e corticeiras nas margens de um rio que nem mais sabiam se era rio ou outra coisa.
                           

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