quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O Povo lá de Casa II


O Povo lá de casa continua em grande movimentação. Minha filha mudou para Porto Alegre, só aparece nos fins de semana e eu quase morro de saudade. As vezes tenho a impressão que o meu filho também se mudou e deixou uma espécie de clone digital no seu lugar. Este raramente fala e quando o faz usa uma espécie de linguagem pouco inteligível: uma mistura de português, grunhidos e inglês com frases ainda preenchidas por palavras como print, owna, x-1, boot, baites, ddr, bridge, mesada acabou e outras mais estranhas. A Denise, minha companheira há 26 anos, está preparando sua festa de aniversário e transformou-se numa fábrica de docinhos, brigadeiros e branquinhos ( eu adoro estes) e o cheiro de coco queimado passeia pela casa, espia pelos cantos até me envolver de maneira irresistível e quando dou por mim estou sendo expulso da cozinha: - Só na festa! Que remédio: Voltei ao povo lá de casa. Faz tempo que não encontro a turma do telhado. O casal de gambás que mora na parte de cima da nossa casa anda sumido. Preciso investigar isso numa outra hora.

Depois que a gata Carinhosa morreu, meus gatos ficaram reduzidos a dois: O Mingau e o Gatinho, ambos “felinos-obesus da familha dos dorminhocosauros”. Nesta época do ano assumem seus postos nas poltronas da sala da Tv e dali só saem para atender suas necessidades mais prementes e eventualmente para trocar de lugar um com o outro. Deve ser algum ritual secreto que só eles conhecem. Também tem a turma da caixa de correspondência. Minhas contas ficam totalmente furadas e comidas por tatuzinhos-de-jardim (Armadillidium vulgare da superfamília das Oniscoideas) e já viraram atração das funcionárias das agências onde costumo efetuar meus pagamentos.

Quando tenho sorte, eles comem grande parte da conta e deixam o código de barras, assim, consigo pagá-las sem precisar solicitar segunda via. Hoje quando abri a caixa da correspondência fiquei aliviado ao constatar que a conta telefônica ainda estava praticamente intacta. Em compensação ao lado estava uma carta semi destroçada e só consegui ver um pedaço de logotipo oficial e o remetente “Emilia Fernandes”. Os amados tatuzinhos prestaram-me um grande favor . Devolvi o que restou da carta ao interior da caixa, fechei a portinha e fiquei ali pensando se não seria possível fomentar o aumento da população de tatuzinhos, afinal estamos iniciando um ano de eleições e não faltará comida para eles. Melhor: uma infestação de tatuzinhos poderia salvar toda a população das frases prontas e discursos vazios deste tipo de correspondência. Por outro lado, já que eles gostaram de comer a carta da Emilia, que tal se enviássemos uma caixa de tatuzinhos para a casa dela, será que eles não comeriam a própria Emilia? Opa. Aí já é outra história.

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