quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Cachorrada e cerveja


Publicado originalmente na Nova Folha em 06/9/12


Nossos lares, frequentemente, são invadidos
sem cerimônia, por ruídos absurdos
e enlouquecedores. Matilhas de
cães ladrando ensandecidos, nos dão a
impressão de estarmos vivendo em uma
cidade da idade média ou dentro de um
canil. Como não há nada neste mundo
que não possa ficar um pouco pior, nesta época de
campanha política, aos cães, juntam-se
candidatos que infestam nossas ruas
com sucatas motorizadas uivando reclames
infames. Piora quando os dois se
juntam. Os carros de som disparam a
ladraria dos cães. Quanto mais alto uns
fanfarram mais alto os outros ladram.
Tortura digna dos círculos do inferno
de Dante. O que, aliás, tem a sua lógica.
Cães e carros de som andam nas ruas, e
como todos nós temos pecados diferentes,
Deus deve ter inventado esta estratégia
para punir-nos simultaneamente.
Esperto. Suportar essa algazarra sonora
e manter o equilíbrio requer força de
vontade e algumas escapadas estratégicas
para paragens mais civilizadas.
Numa dessas, acabei no Lagom
Brewpub, no Bom Fim, com a recomendação
das boas cervejas da casa. Para
quem queria algo mais civilizado, disputar
um copo de cerveja, aos gritos, com
um bando de hooligans alcoolizados
está um pouco longe, mas a cerveja é boa
e compensa o sacrifício. A primeira que
experimentei foi uma Soked Porter, escura
e muito saborosa que recebi depois
de pedir uma cerveja clara de trigo a um
sujeito muito atencioso, com piercing no
nariz. Ele explicava atentamente a composição
de cada item do cardápio, mas
o pedido vinha trocado e não consegui
provar nada do que pedi. Na segunda
tentativa, voltei a pedir a clara de trigo e
recebi uma Smoked Porter, negra e com
reflexos de rubi, diz no cardápio, muito
boa e com alto teor alcóolico. Deve ser
alguma estratégia. Sei lá. O preço não é
caro e os bolinhos de bacalhau, embora
não cheguem aos tornozelos dos bolinhos
do Odeon, não são de jogar fora.
Preciso voltar lá para ver se tenho mais
sorte e consiga provar a cerveja clara de
trigo que me foi recomendada.
Uma coisa é certa. A passagem pelo
Lagom, que segundo seu material de
propaganda quer dizer equilíbrio em
alguns países de língua nórdica, permitiu-
me, momentaneamente, esquecer a
cachorrada, em todos os sentidos, que
anda solta na nossa cidade.


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