sexta-feira, 23 de março de 2018

O Futuro Passou

Muitos escritores do passado imaginaram um século XXI bem diferente do que estamos vivendo. Uma pena isso. Cada vez que ando por tristes, esburacadas e poeirentas ruas da cidade, desejo um daqueles veículos voadores do Gibi do “Buck Rogers no Século XXI”, de 1979. Pena que o futuro passou e restaram apenas buracos de ruas sem calçamento, sem meio fio, nem passeios públicos... 
Ao contrário dos Jetstones, os robôs não lavam nossa louça, nem lustram nossos sapatos. Eles apenas atendem nossas ligações quando reclamamos da falta de energia elétrica, de telefone, de água. Definitivamente não estamos no sonhado futuro, quando chegamos em casa e temos que descer na lama em um dia chuvoso para abrir o portão que não abre por falta de energia.  Não tem a menor graça. Ligamos enfurecidos para a Companhia e o robô com sua fanha voz feminina informa que to-ma-rão pro-vi-dên-cias, enquanto apaga a gravação. Nos desenhos animados dos Jetstons a energia elétrica certamente não era fornecida pela CEEE, pois neles todas as portas se abriam e tudo funcionava quando era acionado. 
Até a água vinha pelos canos para banhar os felizes personagens dos filmes de ficção científica. Nós, habitantes das periferias suburbanas, precisamos aprender que qualidade de vida é coisa para quem pode e não para quem quer. Pena que o futuro só nos trouxe a raiva de ter que reclamar como bestas, pois todos sabemos de antemão que não seremos ouvidos. 
Mas tudo isso não é nada perto do que ainda está por vir. Nem George Orwell com seu 1984 deixou de ser destroçado pela realidade. A ficção de Orwell previa uma sociedade onde um poder central (O Big Brother) fiscalizava e via tudo que ocorria em seu país imaginário. Hoje, ao contrário, perdemos a noção de privacidade e informamos, minuto a minuto, o que estamos fazendo em nossas vidas, para quem quiser ver e ouvir. 
Estamos vendo nascer uma nova ditadura. Uma maioria conectada em tempo integral está  pronta para rechaçar imediatamente qualquer atitude ou pensamento não alinhado. Quem ousar ser diferente, corre o risco de ser sumariamente julgado, ou pior, linchado. Talvez ainda sentiremos na pele que uma ditadura também pode vir de uma maioria ignóbil e reacionária devidamente manobrada. Superarão e deixarão no chinelo os pobres déspotas e tiranos das ditaduras militares da América do Sul das décadas sessenta e setenta. Eram meros aprendizes. 
Espero que este meu delírio de ficção, assim como os outros, também não se realize. Quem sabe. Ainda há tempo para que resolvam ler mais, estudar mais e deixar de lado as futilidades e crendices, para construir uma sociedade realmente democrática, justa e livre. O problema é que isso cansa e dá trabalho.

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