sábado, 22 de agosto de 2009

Altair Martins

Soube que o Altair agora está rico. Estou torcendo para que ele partilhe um pouco da sua riqueza comigo. Afinal, amigos são para estas coisas: dividir tristezas e alegrias. A vida fica melhor assim. Quando ele estiver de posse de todo o tempo que puder comprar, espero compartilhá-lo enquanto tomamos um chimarrão, e jogamos algumas palavras na água da beira que agora está lindíssima.

Uma vereadora sugeriu que a câmara de vereadores preste homenagens ao Altair Martins. Na minha imaginação vi o Altair no palanque com prefeitos, vereadores, políticos de toda a sorte. Discursos. Palavras. Vi o Altair desfilando no carro dos bombeiros com uma faixa atravessada no peito, daquelas com tope e o número 1 na altura do quadril. Ele acenava e sorria. Jogava beijos para a multidão que se aglomerava nas ruas às cotoveladas e agitavam no ar “Paredes no Escuro”, aqui e ali apareciam “Como se Moesse Ferro”, perto do píer havia um grupo que bradava –Altair! – Altair! e empunhavam “Dentro do Olho Dentro” como se fossem espadas e nos canteiros da curva, na Praça da Maçã, um grupo de crianças com capinhas de chuva cor-de- laranja e guarda-chuvinhas feitos com a capa do “Se choverem Pássaros” reproduziam passinhos de Gene Kelly. Dos edifícios choviam pétalas de rosa e papéis picados. Meu olho fechou num close-up zoom e vi que os papéis eram provas rasgadas. Pedacinhos de noites em claro.

Não gosto da idéia de homenagear o Altair. Tenho medo de tirar-lhe a genialidade. Trazê-lo para nossa realidade pequeno-burguesa e para o jogo político mesquinho do nosso dia-a-dia certamente não vai ajudá-lo em nada. Pode até ser uma armadilha do nosso inconsciente enciumado tentando transformá-lo em algo parecido conosco. O reconhecimento que ele precisava já veio e muitos outros virão de onde realmente interessa. Apesar de nunca ter a vida facilitada pelos gestores de políticas públicas ele conseguiu, e a vitória é só dele. Eles que nunca fizeram nada pela formação de jovens, agora querem tirar uma “casquinha “ da fama do Altair. A câmara de vereadores, não tem biblioteca, nunca deu um livro sequer para a biblioteca pública e provavelmente tenha o menor índice de leitores do município, vai homenagear o Altair Martins pelo “Conjunto da Obra” (sic). Para eles provavelmente “conjunto da obra” deve ser: -“Tipo assim, aquela banda tri tocano no churra da laje na obra do cumpadre”.

Agrada-me a idéia de fazer parte da parte do mundo que lhe serve de inspiração. Com sua criativa genialidade ele pega pedacinhos de nós e os transforma em novos “nós”. Somos uma cidade que não tem tempo nem nome. Somos humanos deitados ao lado da mulher realizada de tanta morte. Eu, sou Onira, sou Adorno, sou Maria do Céu. Forjo. Emanuel. Sou um pouco a Lisla e o Vncs. Nem precisamos vogais. Sou só preso, inimigo amante jogador confidente escambador mentiroso delator advogado cantor criança, homem (Se Choverem Pássaros). Sou o homem que

Bateu ferro como se moesse a mulher.

Bateu ferro a vida inteira que não poderia ter sido.

(a vida inteira que acabou sendo)

E, escondido à sua trincheira, bateu ferro.

(ferrou as moídas mãos a vida inteira)

3 comentários:

  1. Escrevi um post gigante antes, vou tentar resumir, me repugna ver politicagem com o que as conquistas dos outros, o Altair deve ter dado duro para conseguir publicar o livro, e a viajem para São Paulo, será que teve auxilio? Agora que ele ganhou todo mundo acha lindo, me pergunto quantos vereadores leram o seu livro, ou quantos leram algum livro no último mês...
    Mas concluindo, deixa a mensagem "Pô Altair já que tá rico faz um churrasco pros amigos ;D"

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